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Muhammad Yunus e os Negócios Sociais

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20 de fevereiro de 2020

Caso você fosse criar um banco para emprestar dinheiro, para quem você concederia empréstimo? Provavelmente, o primeiro pensamento seria: aos ricos – por serem capazes de dar garantias do retorno. Porém, Muhammad Yunus pensou diferente e em locais de miséria em Bangladesh, país carente e extremamente povoado no sul da Ásia, começou a emprestar dinheiro para quem mais precisava: os pobres.

Apesar do público não possuir acesso às garantias convencionais dos instrumentos financeiros, o banco de Yunus teve inadimplência de quase zero – ou seja, pouquíssimas foram as pessoas que não honraram suas dívidas. No Brasil, por exemplo, o menor nível de inadimplência registrado pelos bancos, desde 2011, foi de 4,7%, o que nos mostra que, com um plano de negócios improvável e disruptivo, Yunus viabilizou o Grameen Bank e revolucionou o mundo bancário e do empreendedorismo.

Yunus, com seu novo modelo de banco, completamente diferente dos bancos ingleses, suíços e americanos, revolucionou a forma do empréstimo de dinheiro e mudou a vida de quem mais precisava. A estratégia utilizada foi emprestar dinheiro às mulheres dos vilarejos e, por consequência, aumentar o empoderamento feminino na região. O banco também vendia suas próprias ações a essas mulheres tornando-as não apenas tomadoras de empréstimo, mas investidoras e acionistas do mesmo.

Até o momento, o Gramem Bank já emprestou mais de US$ 7 bilhões a mais de 7,5 milhões de pessoas, injetando muitos recursos importantes para movimentar a economia local e mudar a vida das comunidades. Com esse modelo de atuação, ficou conhecido como “o banco das mulheres de Bangladesh”.

Diferente de outros bancos comerciais, cobradores de taxas de juros superiores a 15% ao ano, o Grameem Bank, atualmente, cobra seus juros entre 8,5% e 12% ao ano considerando diversos fatores, como as particularidades da sazonalidade dos plantios, para definir a taxa e cobrança. E mais: quando o dinheiro é destinado à recuperação de desastres naturais a taxa de juros é zero. Outra diferença é que o banco vai até os clientes e não o contrário. São mais de 8,4 milhões clientes visitados semanalmente. Como o objetivo é alcançar 100% das famílias pobres do país, ao final se tem 22 milhões de pessoas a serem impactadas positivamente ao receber microcréditos – termo que classifica empréstimos de baixo valor, normalmente direcionado a microempreendedores, que buscam aumentar a renda da população e combater o desemprego.

O sucesso do microcrédito foi tanto que virou modelo para o mundo no combate à pobreza. Atualmente, Yunus, considerado o “pai do microcrédito”, possui mais de 50 empresas em Bangladesh, com sua grande maioria no perfil de negócios sociais. Em 2006, por sua relevância social, ganhou o Prêmio Nobel da Paz e foi reconhecido pela Wharton School, uma das universidades mais respeitadas do mundo, como uma das 25 Pessoas Mais Influentes dos Negócios.

Com sua filosofia de atuação, Yunus acreditava que poderia mudar a situação passiva dos pobres para verdadeiros agentes ativos de sua própria mudança e com um retorno muito maior. Em entrevista para Humam o Filme, Yunus explicou que a pobreza, em sua concepção, “é como uma semente plantada em um vaso para Bonsai” (árvore pequena, que só cresce no tamanho do vaso), porque, para ele, as oportunidades das pessoas da classe mais pobre ficam limitadas à espera de um emprego. Ou seja, a pessoa “cresce” para ficar em um espaço pequeno na casa de alguém. Se esta semente fosse plantada na natureza, as possibilidades de crescimento seriam incalculáveis, pois as pessoas podem ser criativas e competentes.

Yunus continuou afirmando que o problema começa na educação de base, pois as crianças já são preparadas desde cedo para esperar um emprego, ao invés de criar seu negócio, virar empreendedor e empregador. Para o fundador do Grameen Bank, desemprego e pobreza poderiam ser extintos no mundo com uma educação do empreendedorismo e maior viabilização de microcrédito, e que “um dia poderíamos ter museus do desemprego e da pobreza.”

Seu modelo é simples e eficaz, o que fez do Grameen Bank o maior banco de microcrédito do mundo. E os negócios sociais criados por Yunus se apresentam viáveis. Ele explica que o negócio social tem o dinamismo de uma empresa normal, mas sem os dividendos ou o lucro – por ser todo reinvestido no próprio negócio. O investidor pode até recuperar seu investimento inicial, mas o lucro gerado continua na empresa, a fim de ampliar o impacto.

O que motiva um negócio social é justamente seu propósito e significado que, por servir de estímulo aos envolvidos pode resultar em grandes inovações. Como ocorre o retorno do investimento, ele pode ser reinvestido em novos negócios, criando um ciclo de benefícios à sociedade.

Dessa forma, as novas tendências de mercado vão ao encontro das ideias de educação e microcrédito para combater a pobreza. Talvez, a semente plantada por Yunus, em 1970, fora do vaso de bonsai, possa ter sido o início do caminho para uma melhor situação social mundial, salvando pessoas da miséria com educação, microcrédito e empreendedorismo.

 

Henrique Bonacin Filho
Diretor Corporativo
Henrique Bonacin Filho é formado em comunicação social com habilitação em jornalismo na UP e graduando em ciências econômicas na UFPR. Cursou MBA de gestão estratégica. É co-fundador e diretor corporativo da Freehelper. Atualmente é empresário e atua com sales management na área da saúde.