BLOG

Empreendedorismo de alto crescimento

Compartilhe agora mesmo:

Facebook
LinkedIn
WhatsApp

04 de fevereiro de 2021

Em março do ano passado encerrei minha jornada de 3 anos na Endeavor, a maior organização no mundo de apoio ao empreendedorismo de alto crescimento sem fins lucrativos, e que acredita que os empreendedores de alto impacto são a grande força que movimenta a economia. Minha experiência mudou a forma que enxergo o mundo e o meu conceito de privilégio.

Tive o prazer de liderar o escritório da Endeavor no Paraná e durante esses anos acompanhei empreendedores e empreendedoras à frente de negócios que crescem de maneira acelerada, empregando 100x mais que a média de outras empresas e impactando diretamente os mercados que atuam.

Empresas estas como o EBANX, que dá acesso a milhões de brasileiros a produtos e serviços internacionais, o Olist, que empodera o comércio brasileiro, a Contabilizei, que transforma a vida do micro e pequeno empreendedor, a Hi Technologies, que revolucionou a maneira que fazemos exames laboratoriais no Brasil e a Tecverde, que constrói casas mais baratas e sustentáveis ao redor do país.

Lembra do conceito de privilégio? Pois bem, compartilhar um pouco de cada uma dessas jornadas, e mais dezenas de outras que não citei aqui, é um baita privilégio. Na Endeavor, sempre reforçamos que com o privilégio vem uma responsabilidade gigante.

Essas empresas que citei possuem muitas características em comum. Eu poderia passar inúmeras linhas compartilhando o porquê de acreditar que esses negócios foram bem-sucedidos. Assim como suas organizações, os empreendedores e empreendedoras à frente delas também possuem suas semelhanças.

Em várias das conversas ao longo dos anos ouvi perguntas como: “Mas o que eles fazem realmente funciona?”, “Como eu queria ter uma sacada dessas! Como será que eles tiveram?”, “Como ninguém pensou nisso antes?”, “O que todos eles têm em comum? Quero esse comprimido que eles tomaram também!”.

Ao responder cada uma das perguntas acima, fui criando minha tese (100% empírica) sobre esses negócios – os quais chamamos de Scale-Ups – e empreendedores/empreendedoras. Sempre gostei de observar o comportamento humano, e é um pouco do que gostaria de dividir aqui.

Qual foi a característica que mais observei nos empreendedores e empreendedoras bem-sucedidos que tive contato?

A rápida capacidade de adaptação aos cenários adversos, com energia, bom humor e otimismo.

O empreendedor é um ser otimista. Ponto. O mundo pode estar caindo, os clientes podem estar extremamente insatisfeitos, o churn – indicador que mede o índice de evasão dos clientes – nas alturas, as vendas despencando, o investimento atrasado, o time desmotivado, o fluxo de caixa negativo. Não importa, sempre dá para dar a volta por cima. O empreendedor dá um jeito.

Um exemplo que acompanhei de perto e que ilustra muito bem isso que falei acima é a história recente da Hi Technologies e do Marcus com a Anvisa (assista aqui). É disso que estou falando, é não desistir nem quando o órgão regulador está a um dia de fechar o seu negócio de mais de 10 anos.

Não tem tempo ruim.

E se o tempo está ruim, há a certeza que é só mais um passo rumo a um objetivo maior e que em pouco tempo, este obstáculo será ultrapassado.

O cliente não está satisfeito? Passa a mão no telefone, quantas vezes forem necessárias, e tenta entender os porquês. Não foi o suficiente? Vá no dia seguinte pessoalmente negociar as condições do contrato, mesmo que isso signifique acordar às 3 horas da manhã para o voo CWB > CGH de embarque às 5 horas e estar de volta em casa a tempo de colocar as crianças na cama.

O time está desmotivado e a cultura se perdeu? Abra o jogo, fale das dificuldades abertamente, chame para traçar a solução junto, se mostre humano que erra e que está em constante aprendizado. Muitas vezes a própria pessoa nunca foi CEO de um negócio com tantas pessoas antes e ela também está aprendendo, ao mesmo tempo em que ensina, e possui dezenas de famílias dependendo das suas decisões.

O investimento atrasou? Corte os custos, desenhe planos de ação de curtíssimo prazo, vá atrás do banco, explique a situação para o time, abra o coração, pegue dinheiro emprestado, fique meses sem receber salário. Estão todos no mesmo barco.

As vendas estão caindo? Toda a companhia sabe e colabora de alguma forma! Seja liberando tempo operacional do time de vendas, seja vendendo propriamente, criando processos – todo mundo faz parte.

Parece óbvio, não? Lendo cada um dos exemplos que trouxe, você pensa: “Claro, eu faria isso também, nada demais até aqui.”

O que na minha visão diferencia estes empreendedores e empreendedoras é o como desta execução. Além de executarem isso tudo, eles abrem o jogo, falam dos números (bons e ruins), são transparentes, conversam sobre as dificuldades e como estão tentando superá-las. Eles reconhecem quando não têm todas as respostas, não desistem e mantêm a energia alta.

Me lembro claramente de, após sairmos de várias reuniões para controle de crise, perguntar aos empreendedores como eles sairiam daquela situação. Sempre ouvia algo como: “Vai dar certo, é questão de algumas semanas ou meses, temos o plano traçado, agora é executar”, acompanhado de um baita sorriso no rosto.

A transparência em momentos de crise torna o empreendedor e a empreendedora humanos.

Aproxima e desenvolve empatia. Falar sobre as dificuldades – sempre entendendo o melhor momento de expor os problemas e sabendo a maturidade do time para receber as informações – tira o empreendedor da posição de super-herói e o coloca exatamente onde ele deveria estar: ao lado do seu time.

Esse, para mim, é o perfil do empreendedor e empreendedora de alto crescimento. É isso que os diferencia dos demais empreendedores.

É ser humano, agir rápido, com consciência, responsabilidade, energia alta e acreditando que é possível. Nunca desistir, não importa o tamanho do obstáculo.

Se pegarmos o terceiro setor, por exemplo, veremos organizações que não buscam lucro com suas atividades, mas a solução de muitos problemas sociais. As ONGs são o reflexo do que nossa sociedade mais precisa e atuam em causas que nem o Estado, nem a iniciativa privada conseguem resolver.

Essas organizações, como a Pisco de Luz e a Universidade Livre do Esporte, parceiras da FreeHeper, precisam criar soluções enquanto agem em ambientes complexos com o objetivo de transformar pessoas, mesmo com todas as dificuldades que o setor apresenta no Brasil.

O empreendedor social e fundador da Pisco de Luz André Viégas inconformado com o problema de fumaça tóxica produzida pelas lamparinas com as quais uma comunidade distante dos centros urbanos convivia, criou um sistema de energia solar de baixo custo e de fácil instalação e manutenção.

Ele criou uma solução sustentável e acabou com os malefícios à saúde trazidos pelas lamparinas à comunidade.

Já a organização Universidade Livre do Esporte trabalha com a educação esportiva e inclusão, mas diferentemente de outras organizações, ela não trabalha apenas com pessoas com deficiência, mas une durante as práticas esportivas pessoas que não possuem deficiência e isso, de acordo com Denise Diretora Administrativa da organização, é “a verdadeira inclusão”.

Normalmente elas atuam com poucos recursos, sejam eles financeiros ou humanos, para diminuir desigualdades e injustiças. Educam, dão suporte, viabilizam recursos e sonhos. Transbordam solidariedade e amor, mas sem parar de aprender gestão e estratégia, “se virando nos 30” para trazer soluções e crescer para atingir mais pessoas.

Que em tempos de pandemia – e fora dela – possamos todos ser empreendedores de alto crescimento, os quais, dentro de empresas ou organizações sociais, mesmo com todas as adversidades, enxergam o lado cheio do copo, fazem acontecer e não param nunca.

Estamos vivendo épocas difíceis e ainda não sabemos quando a situação irá melhorar. São meses complexos, para quem empreende e para quem não empreende. Sermos otimistas não significa colocar óculos colorido que mascara a seriedade da situação, mas sim entender que juntos vamos mais longe. É momento de termos empatia com o outro, pelo outro, seguirmos com as medidas de isolamento e precaução, adaptarmos as rotinas e, acima de tudo, acolhermos uns aos outros.

• Se você empreende, espero que características que citei acima tenham o ajudado e não esqueça que estamos juntos nessa. A turbulência vai passar e você sairá ainda mais forte dessa.

• Se você não empreende, entenda dentro da empresa que trabalha como você pode colaborar. Esqueça seu job description ou as mudanças na rotina. Entenda que o momento é adverso e você também será um profissional mais capacitado e maduro depois de tudo isso.

Lembrem-se: não desistimos, nunca.

Leticia Preuss
Gerente de Afiliados na BCredi
Gerente de Afiliados na BCredi, Fintech especializada em crédito com garantia de imóvel. Economista formada pela UFPR, já liderou a operação da Endeavor no Paraná e é sócia da Audiotext, empresa líder no segmento de transcrição de áudio no Brasil.