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Créditos de carbono: alternativa financeira sustentável

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10 de setembro de 2020

Você sabia que a temperatura média mundial já aumentou 1°C desde a Revolução Industrial e que o “mundo” está tentando manter esse aumento abaixo de 2°C?

Existem 7 gases que compõem os Gases de Efeito Estufa na Terra (GEE) – e eles são bons gases: são responsáveis por absorverem parte dos raios do sol e os redistribuírem em forma de radiação na atmosfera, aquecendo o planeta e permitindo a vida na Terra como nós a conhecemos.

O problema é que, desde a Revolução Industrial – quando se começou a usar combustíveis fósseis nas fábricas -, se aumentou a oferta e demanda por produtos e, consequentemente, o uso de recursos naturais, nós passamos a emitir cada vez mais GEE na atmosfera e diminuímos a disponibilidade daquilo que equilibraria a equação: as florestas. Isso vem causando um aumento na temperatura mundial que, naturalmente, não aconteceria.

O principal gás emitido nesse processo é o Dióxido de Carbono (CO2), seguido pelo gás Metano. O primeiro é o mais abundante, responsável por 3/4 do aquecimento global e, devido a seu papel dominante. Os cientistas relacionam todos os outros a ele, expressando seu poder de aquecimento em CO2. Por isso, ao falarmos em reduzir a emissão de gás carbônico, estamos nos referindo ao equivalente desse gás, seja reduzindo CO2 mesmo ou qualquer um dos outros GEE.

Veja na figura 1 o aumento do nível de dióxido de carbono na Terra nos últimos 60 anos. Segundo o fundador da Moss Earth (atualmente, o único fundo de ações do mundo em que pessoas físicas podem investir em créditos de carbono), Luis Adaime, essa concentração sempre variou entre 100 e 300 partes por milhão (ppm) e, como se pode ver na Figura 1, há décadas já ultrapassamos esse patamar e hoje a concentração é de 412ppm.

Figura 1: Relógio de Carbono
Cientistas mediram o aumento do nível de dióxido de carbono na atmosfera desde os anos 1950. O Relógio de Carbono da Bloomberg é uma estimativa do nível mensal de CO2 em tempo real.

Linha verde: tendência; linha branca: padrão sazonal.
412,834604 partes por milhão de CO2 na atmosfera

Fonte: Bloomberg Green – dia 05/09/2020 às 9h30



E apesar da temperatura média mundial ter aumentado apenas 1°C, esse número esconde a maior variação em regiões temperadas e que já tem provocado alguns fenômenos inesperados: segundo o Luis, nos últimos 6 meses houve incêndios na Califórnia e na Austrália – que matou mais de 1 bilhão de animais – houve uma temperatura de 38°C da Sibéria; o inverno mais quente da história da Europa; a temperatura mais alta registrada na Antártida; enchentes… E, com a quarentena causada pelo COVID-19, todos puderam perceber que quando o homem reduz o uso de automóveis e aeronaves, a poluição cai: a da cidade de São Paulo caiu 50% e a de Paris 70%, segundo o CEO da Moss.

E por que ninguém fez nada para impedir isso antes?

Na verdade, as pessoas estão tentando há algum tempo…

Em 1972 os países se reuniram pela primeira vez para discutir o futuro do meio ambiente na Conferência de Estocolmo, Suécia, que estabeleceu um guia de preservação do meio ambiente.

Mas existiram conflitos de interesse e foi só em 1992 que a pauta realmente avançou, com a Eco-92 (RJ): uma Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), em que a comunidade política internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza – uma vez que eles acreditavam que, se todas as pessoas almejassem o mesmo padrão de desenvolvimento dos países ricos, não haveria recursos naturais para todo mundo sem que fossem feitos graves e irreversíveis danos ao meio ambiente.

Os países desenvolvidos não aceitaram mudar seu modus operandi, mas os “em desenvolvimento” concordaram que tentariam, com apoio financeiro e tecnológico, alcançar outro modelo de desenvolvimento que fosse sustentável, inclusive com a redução dos padrões de consumo — especialmente de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral).

Então, em 1997 os países assinaram o Tratado de Kyoto, que foi o primeiro tratado internacional para controle da emissão dos Gases de Efeito Estufa, em que os países, principalmente desenvolvidos, concordaram em reduzir suas emissões de GEE em 5,2% (na média) em relação a 1990 até 2008-2012.

A partir de então, a possibilidade de o carbono se tornar uma moeda de troca passou a existir, ou seja: surgiram os Créditos de Carbono.

Foi regulado em 2005 por um mercado global chamado MDE (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) – Regido pela ONU e houve progresso até 2008, mas com as crises dos Estados Unidos e da Europa entre 2009-2013, esse mercado ficou parado, dado que as empresas estavam focadas em apenas sobreviver.

No entanto, essa despreocupação causou um aumento enorme de emissão de GEE – de 25 bilhões de toneladas de CO2 por ano em 2008 para 55 bilhões hoje em dia – e agora os países estão realmente preocupados e se mobilizando, já que há 3 anos atrás, 10% do mundo era regulado; hoje, 2/3 do PIB mundial é regulado – e o Brasil está caminhando para sua regularização.

Mas então, o que é um crédito de Carbono?

Um crédito de carbono é um certificado digital (um selo) que projetos ambientais que sequestram carbono ou empresas que poluem menos ganham e que pode ser negociado.

Cada certificado comprova, seguindo protocolos globais rigorosos, que, por causa daquele determinado projeto, a emissão de 1 tonelada de CO2 foi evitada em algum ponto do passado.

Ou seja, se você ou uma empresa realizar um projeto que, comprovadamente, “economizou” a emissão de 1 tonelada de CO2 ou “sequestrou” 1 tonelada de CO2 da atmosfera, você ou ela recebe um certificado digital.

Como nem todo mundo pode realizar esse tipo de projeto, você ou a empresa pode comprar a capacidade de realização de outra entidade, e este é o Mercado dos Créditos de Carbono.

E como em todo mercado de ativo escasso – e este mercado é escasso pois, em algum momento, a oferta de créditos será menor do que a demanda por eles – existem o mercado primário e o secundário: no mercado primário, o valor pago pela tonelada de Carbono está impactando diretamente a natureza; já no mercado secundário, o Crédito pode servir como investimento, se as pessoas acreditarem que o valor deste ativo pode subir.

Além disso, hoje existem o Mercado Regulado e o Mercado Voluntário.

O Mercado Regulado é a representação do que os países precisam cumprir de acordo com o Protocolo de Kyoto.

O Brasil ainda não é regulado – mas já tem planos para se regular nos próximos anos – e não possui uma meta de redução de emissão de GEE. Porém, já possui, desde 2006, mais de mil projetos que representam mais de 2,7 bilhões de toneladas de CO2 equivalentes para serem aprovados pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima e, então, submetidos à ONU para avaliação e registro.

Esses projetos são chamados de projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) e podem ser ligados a reflorestamentos, ao desenvolvimento de energias alternativas, eficiência energética, controle de emissões e outros.

A Secretaria Especial da Fazenda do Brasil está em processo de discussão sobre a conveniência e oportunidade da inclusão da precificação de emissões (via imposto e/ou mercado de carbono) no pacote de instrumentos voltados à implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) a partir do Projeto PMR Brasil.

Já o Mercado Voluntário representa pessoas e empresas que desejam compensar, voluntariamente, sua própria emissão de GEE na atmosfera.

As pessoas que desejam compensar sua pegada de carbono podem fazer isso no mercado voluntário. Então se, por exemplo, você emite 10 toneladas de carbono por ano pela utilização de carro e avião, no mercado voluntário você pode comprar 10 créditos de carbono e compensar sua pegada. Ou você pode comprar e segurar, fazendo uma reserva de valor, como um investimento próprio, caso acredite que os créditos vão se valorizar no futuro.

E as empresas, que representam 99% desse mercado, também podem fazer isso, principalmente porque

1. cada vez mais sofrerão pressão dos consumidores para reduzirem suas pegadas de carbono – e podem utilizar esse feito como estratégia de marketing.
2. o mercado está crescendo e se valorizando, então, os fundos de ESG podem se beneficiar com isso.
3. haverá regulamentação e os preços deverão subir, então podem ir se preparando para um mundo regulado.

Neste mercado, os créditos de carbono (ou VERs – Verified Emission Reduction, em inglês) podem ser gerados em qualquer lugar do mundo e são auditados por uma entidade independente do sistema das Nações Unidas.

E onde estão as oportunidades para se reduzir a emissão de GEE?

Como dado apresentado pela Bloomberg – empresa global de tecnologia e dados que provê informações financeiras para o mercado –, a Figura 2 mostra as fontes humanas de emissão de GEE de 2017, equivalentes a 50,8 bilhões de toneladas de Dióxido de Carbono.

E a Figura 3, a título de curiosidade, os alimentos que possuem a maior pegada de carbono, cujo impacto varia de acordo com a fonte, apresentados pela BBC News – área de jornalismo e notícias da British Broadcasting Corporation (corporação pública de rádio e televisão do Reino Unido).

Figura 2: Emissão Anual de Gases do Efeito Estufa
Dióxido de Carbono é o principal gás aquecendo o planeta. Os seis outros – mais poderosos do que aquele, mas menos abundante – absorvem calor também. Eles estão expressos abaixo como equivalentes ao CO2.

 

50,8 bilhões de toneladas de GEE emitidos em 2017, no total. Fonte: Bloomberg Green

• Dióxido de Carbono é emitido na queima de combustíveis fósseis, com contribuição do desflorestamento e fabricação de cimento – em 2017, foram emitidos 38,1 bilhões de toneladas de CO2 no mundo.

• Metano vem da infraestrutura de energia, agricultura e fontes naturais – em 2017, foram emitidos 8,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalentes no mundo.

• Óxido nitroso é produzido a partir de fertilizantes, esterco e combustão de combustível fóssil – em 2017, foram emitidos 3,1 bilhões de toneladas de CO2 equivalentes no mundo.

• Hidrofluorocarbonos são usados como produtos químicos refrigerantes em eletrodomésticos – em 2017, foram emitidos 969 milhões de toneladas de CO2 equivalentes no mundo.

• Hexafluoreto de enxofre isola interruptores e disjuntores em equipamentos elétricos – em 2017, foram emitidos 93 milhões de toneladas de CO2 equivalentes no mundo.

• Produtos químicos perfluorados repelem água e óleo e são usados em potes antiaderentes, roupas e tintas – em 2017, foram emitidos 54 milhões de toneladas de CO2 equivalentes no mundo.

• Trifluoreto de nitrogênio é usado como limpador na fabricação de pastilhas de silício – em 2017, foram emitidos 9 milhões de toneladas de CO2 equivalentes no mundo.

Figura 3: A carne bovina tem a maior pegada de carbono – mas o mesmo tipo de alimento pode gerar impactos diferentes.

Para o Brasil, que já possui 90% da energia produzida por fontes renováveis, a grande oportunidade está na redução do desmatamento, no aumento do reflorestamento e na agropecuária.

As empresas devem ficar atentas, pois a tendência é que isso se torne um custo a mais, uma vez que deve ser regularizado e porque os consumidores não vão mais aceitar a exploração irresponsável do meio ambiente.

E, seja por querer ter sua consciência limpa ou pelo investimento a longo prazo, muitos acreditam que os Créditos de Carbono serão a próxima moeda mundial e, mais uma vez, nós temos um grande mercado em crescimento neste momento.

Marina Franco
Empreendedora
Engenheira de produção, mas só no papel. De espírito empreendedor, ama aprender sobre diversos assuntos e compartilhar conhecimento através da escrita. Acredita que com amor e educação o mundo pode se tornar um lugar melhor