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A arte como instrumento de formação

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12 de novembro de 2020

Kennedy Pierre tem 22 anos. É dançarino e acadêmico em dança pela FAP. Viver da arte é a maior alegria do jovem, mas não foi sempre assim. Apesar da grande vontade de ser artista, ele chegou a pensar que isso não seria possível.

Tudo mudou lá em 2013, na adolescência, quando conheceu, pelas redes sociais, o projeto Palco Escola. O programa, que existe há 18 anos, promove atividades de arte e educação com crianças, adolescentes e jovens de escolas públicas que não têm acesso à arte e à cultura

“Antes do projeto, estava como aprendiz na área administrativa, mas eu me sentia preso. Quando conheci o projeto, decidi investir na área artística”, conta o estudante. Kennedy explica que a visão sobre o mundo mudou e que foi no projeto que entendeu que pode ser livre.

“Conheci pessoas maravilhosas dentro do projeto. Mudou a minha vida a partir do momento em que me permitiu ser quem eu quisesse. Hoje eu sou o que sou graças ao pé no palco porque a dança mudou a minha vida. Eu conheci pessoas iguais a mim e que, até então, eu não sabia que existiam”, relata o dançarino que, antigamente, tinha outra percepção do ser humano.

“Antes eu achava que ser um preto, gay, da periferia era uma coisa horrível. Mas entrar no palco me motivou. Se eu não tivesse participado do projeto eu não seria quem eu sou hoje”, finaliza.

O Palco Escola surgiu com artistas paranaenses que sempre acreditaram na força que a arte e a educação têm juntas. A proposta de levar cultura para estudantes da rede pública de ensino – muitos em situação de vulnerabilidade social – foca na ampliação das relações com mundo e nas transformações pessoais e sociais.

Para a atual presidente e uma das fundadoras da associação Amigos Pé no Palco, Giselle Lima, o projeto Palco Escola tem como essência mostrar que a arte é sim um importante instrumento de formação.

“Atualmente, a educação por meio da arte vem ganhando expressiva importância no cenário educacional, especialmente nos aspectos social, cultural e profissional. Assim, o que desenvolvemos no projeto Palco Escola pode contribuir de modo expressivo com a educação integral, que se fundamenta na compreensão de que o desenvolvimento pleno dos indivíduos só é possível quando se observam suas diferentes dimensões”.

ATIVIDADES – O projeto oferece de forma gratuita e semanalmente atividades socioeducativas de convivência criativa. São oficinas educativas de expressão cênica (teatro) que interagem com as expressões sonora, plástica, corporal, oral, criação literária, criação audiovisual, entre outras atividades complementares. O Palco Escola oferece, ainda, oficinas de contraturno escolar que levam aprendizagens e vivências na área artística/cultural aos estudantes como alternativa à ociosidade, à marginalidade e à evasão escolar.

Raphaella Witsmiszyn tem 24 anos e acabou de formar-se em Produção Cênica pela UFPR. A jovem também foi aluna do projeto, que conheceu em 2005 quando ainda era uma criança. No começo, por ser tímida, houve resistência, mas acabou ingressando no grupo durante um tempo. Deixou as aulas e só retornou anos depois, já adolescente. Hoje, ela diz sem dúvida alguma que a mudança de vida foi significativa.

“Me deu uma bagagem muito rica de literatura, de música, de pintura. Lembro que eu fiquei muito mais interessada em conhecer o mundo e conhecer a arte”, conta.

Raphella percebeu que arte e educação caminham juntas. Agora o plano é outro: fazer pedagogia e ajudar outras pessoas.

“É uma ferramenta muito importante. Se não fosse a arte eu não teria a bagagem que eu tenho hoje. E eu coloco isso em trabalhos, em textos e percebo como são importantes. Me transformou em uma pessoa mais sensível, mais empática e com um olhar mais crítico e fora da caixinha. A arte, quando entra na sua vida, faz você pensar de outras formas que nem imaginava”, finaliza.

É observando histórias como a do Kennedy e da Raphaela que a presidente do projeto Giselle Lima percebe que o trabalho tem alcançado o objetivo proposto e tem mudado tantas vidas ao longo dos anos.

“Nossa experiência mostra que o acesso a atividades artísticas e culturais apresenta inúmeros benefícios à sociedade, desde a melhoria da autoconfiança, a qualidade de aprendizagem nas escolas, nas relações interpessoais e mesmo a diminuição da intolerância, do racismo, da depressão, da ansiedade e da desigualdade social. Contudo, é importante mencionar que o trabalho que desenvolvemos por meio da arte-educação está contribuindo para mudar a realidade de uma parcela da sociedade; possibilitando a participação cidadã em várias questões complexas e urgentes, como a diversidade cultural, o pertencimento, a relação com a comunidade, tanto na condição pessoal, quanto no âmbito coletivo”, explica a produtora cultural.

Ela aproveita para dizer que muito mais pode ser feito. Para isso, para que outras pessoas tenham oportunidades semelhantes, Giselle entende que é necessário um esforço ainda maior de todas as partes.

“Pode-se afirmar, portanto, que os alunos e seus familiares atendidos por nossos projetos são salvos de muitos problemas socioemocionais e socioeconômicos, tendo a oportunidade de desenvolver suas potencialidades e suas competências, não tendo mais uma experiência de vida limitada e estagnada. Com isso, acreditamos que é necessário um esforço maior de todas as esferas da sociedade para investir e valorizar mais a arte, a cultura e a educação, porque fazendo este investimento, estaremos construindo um futuro melhor para todos”, conclui.

João Vieira
Assessor de Comunicação Parlamentar
Ator e jornalista pela Universidade Positivo. Passou pela comunicação da prefeitura de Curitiba e do Governo do Paraná. Trabalhou como repórter de Cultura a apresentador na TV Educativa do Estado. Foi repórter e apresentador na TV da Assembleia Legislativa do Paraná e atualmente trabalha como assessor de comunicação parlamentar.