24 de junho de 2021.
Uma história contada inspira uma nova história.
E é por isso que o marketing para o Terceiro Setor é tão importante e precisa ganhar espaço e relevância dentro das instituições.
No final do ano passado, recebi uma mensagem em um dos meus grupos de WhatsApp, era um convite de uma organização para adotarmos as cartinhas do Papai Noel, pois a campanha estava “devagar”. Criança e Natal é a melhor combinação para disparar uma vontade imediata de ajudar.
Como não conhecia o projeto, joguei no Google e localizei seu site e página no facebook. Mas o site estava incompleto e a página na rede social estava desatualizada há mais de 6 meses, o que não pode acontecer.
Não é porque eu trabalho com comunicação que isso me incomodou, mas porque eu queria compartilhar a mensagem do convite com mais pessoas, e, assim como eu, imagino que outras pessoas teriam a mesma iniciativa de, simplesmente, querer saber mais sobre a organização e principalmente de querer multiplicar o alcance do pedido.
Como eles não comunicam seus trabalhos e, principalmente, a grande demanda do Natal? Como conhecer o trabalho, tão importante, feito ali, se a organização não parece estar “viva”?
Eu, que já́ venho atuando com comunicação voltada a causas sociais nos últimos anos, tive ainda mais certeza que precisamos desenvolver e fortalecer a área para ajudar o Terceiro Setor a se mostrar exatamente assim: V-I-V-O!
As organizações sociais, de uma maneira geral, possuem grandes desafios, todos sabemos disso. Muitas das dificuldades encontradas no dia a dia das instituições estão relacionadas a um ponto que costuma “ficar para depois”, mas que já não pode mais ficar em segundo plano: a comunicação.
A máxima de que “quem não é visto não é lembrado” é valida também para o setor social, porém, tenho a sensação de que há um temor em promover e divulgar as organizações. Parece que estamos fazendo algo errado, como se não fosse permitido divulgar boas ações.
A pandemia, mesmo trazendo uma maior demanda de necessidades, serviu de avanço em relação à comunicação, porque falar sobre ela foi o que fez o Brasil bater recorde de doações em 2020, conforme aponta a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR).
Segundo a pesquisa realizada pela Nossa Causa, que buscou apresentar o cenário das práticas e percepções das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) do Brasil sobre comunicação e marketing no Terceiro Setor, há um certo entendimento de sua importância.
Quando questionadas sobre a importância da comunicação e marketing, as organizações responderam a uma escala de 5 pontos, em que 1 representava “nada importante” e 5 “muito importante”. A pontuação média foi de 4,1 pontos, mostrando que as organizações consideram comunicação e marketing importantes.
Mas, na prática, com equipes enxutas e poucos recursos, as ações na área não ganham a força necessária. Ainda segundo a pesquisa, “em 50% das organizações a área de comunicação é composta por somente uma pessoa, 15% não têm alguém responsável e outros 15% têm uma equipe de voluntários. Quando perguntadas sobre suas principais necessidades, no contexto da comunicação e marketing, as organizações citaram com maior frequência, recursos humanos para a execução das atividades (15%)”.
Ou seja, ainda não há espaço ou ainda não é viável manter um profissional da área dentro das instituições e, deste modo, não há ainda muitos profissionais focados neste segmento.
É importante salientar que comunicação está diretamente ligada à transparência da organização, ao passo que torna público o trabalho realizado. Conhecimento e informação geram interesse e podem gerar mobilização e engajamento. Com a mobilização passamos a ter apoiadores, uma comunidade e embaixadores da causa. Estes, por sua vez, poderão se sentir mais abertos ao trabalho voluntário e, também, às doações; o que gerará recursos humanos e financeiros.
Comunicação, portanto, está, sim, ligada à captação de recursos. Ou seja, a comunicação gera receita e oportuniza sustentabilidade, por isso, já passou da hora de ser encarada como mais um projeto a ser realizado pelas instituições.
Entendo que não há – ainda – este pensamento, bem como recursos dentro das instituições, mas não podemos mais não pensar sobre isso. Como, então, poderemos incentivar a comunicação dentro das organizações sem precisar de algum profissional?
Pense na sua causa.
Qual seria o público mais próximo da sua causa e que poderia “adotá-la” para si? O que não falta dentro de uma organização social são boas histórias para contar. Por isso, conte suas histórias, crie vínculos, se envolva e compartilhe toda a emoção.
Pense: seu produto (um dos 4 P’s do marketing que podemos e devemos adaptar para o social) é a transformação e o impacto gerados no público a ser atendido, seja ele qual for. Quer algo mais grandioso que isso?
Anote e peça para sua equipe compartilhar internamente todos os pontos importantes e histórias marcantes. E, acredite: tudo pode ser pauta!
Caso não seja viável que sua equipe interna absorva e que, principalmente, consiga dar vazão a todo o conteúdo que será gerado, pense em voluntários. Tem muita gente querendo ajudar e que não sabe como chegar. Ser voluntario é uma ótima oportunidade de desenvolvimento de portfolio para jovens profissionais desta área e aqui a FreeHelper poderá́ te ajudar.
Hoje atuo na área de comunicação de uma organização que completará neste ano 28 anos de existência. Me deparo todos os dias com pessoas que nunca ouviram falar do programa; o desafio e o trabalho são enormes, assim como a oportunidade de desenvolver uma linda trajetória na área da comunicação de causas, “irmã caçula da comunicação e do marketing corporativo.
Porém, também preciso ser honesta, tenho 20 anos de atuação na comunicação e no marketing e, posso dizer, não tem fórmula pronta, muito menos passo-a-passo milagroso.
A dica é: co-me-ce!
Navegue pelo seu site e veja se está tudo atualizado. Se as fotos mostram o que de fato vem sendo executado pela sua organização.
Não deixe de compartilhar e de deixar claro quem são vocês, o que fazem, qual o público-alvo de seus impactos e qual a sua transformação no mundo. \
Com isso, você̂ já conseguirá algumas semanas de conteúdo para compartilhar nas redes sociais, por exemplo. (Aliás, esteja nas redes sociais, ok? Se ainda possui uma conta em alguma rede, largue tudo e crie alguma agora mesmo, depois você̂ retoma a leitura, combinado?)
A partir disso, comece a analisar. O marketing pode e deve ser avaliado a cada nova ação. Veja o que funciona ou não para o seu caso específico e, se precisar, mude a rota. Experimente outros caminhos até chegar ao que mais funciona para sua organização.
Por fim, reforço: não deixe de compartilhar! Sua causa precisa ser conhecida pela sociedade, a energia é boa demais para não ser compartilhada e, com isso, despertar em mais pessoas aquela sensação de “eu também posso fazer isso”.