21 de maio de 2020

Trabalhar como voluntário em causas sociais envolve um grande senso de empatia, doação, generosidade e solidariedade, porém o altruísmo que confere um tom “romantizado” ao trabalho voluntário não é a única motivação para que as pessoas se envolvam nesse tipo de atividade.

O envolvimento em ações sociais de maneira voluntária tem se mostrado um grande diferencial, especialmente para o currículo de jovens profissionais em início de carreira. Para o jovem universitário, adquirir experiências e vivências profissionais formais pode ser muito difícil, tanto por questões relacionadas ao tempo e conciliação entre trabalho e estudos quanto pela escassez de oportunidades. Nesse contexto o trabalho voluntário realizado em projetos sociais, ONGs e até mesmo em empresas juniores e órgãos estudantis surge como uma oportunidade flexível e viável para se conseguir experiência prática e vivências de valor para o mercado de trabalho. O currículo de jovens que demonstram ser engajados em ações sociais e se comprometem a dedicar suas habilidades e parte do seu tempo a algum tipo de causa sem receber benefícios financeiros para isso tem sido um grande diferencial no mercado de trabalho atual.

Esse tipo de experiência também gera valor para os profissionais que já estão inseridos no mercado de trabalho, à medida que as organizações começam a perceber que a qualidade de um bom profissional – especialmente aquele que ocupa cargos de liderança e gestão – tem muito a ver com a diversidade de experiências e com o fato de se explorar oportunidades em diferentes lugares, cargos, indústrias e com diferentes tipos de responsabilidades.

Em um artigo publicado pela revista Harvard Business Review, Ken Banta e Orlan Boston ilustram a importância e o impacto que esse tipo de atividade “extra” geram na carreira profissional por meio da história de Amit Spent, um profissional que começou sua carreira trabalhando para o jornal Washington Post e que também trabalhou como consultor para a Mckinsey – uma das maiores empresas de consultoria do mundo. A experiência de trabalho nessas empresas em si já seria um ponto de destaque para a carreira de Amit, porém durante toda a sua vida profissional Amit desenvolveu habilidades por meio do trabalho voluntário em diferentes organizações. Para ele o voluntariado era também uma prioridade, o que o levou à posição de CEO de uma organização voltada a causas sociais chamada Trevor Project em 2017. Segundo ele, ao investir o seu tempo fora do trabalho em causas pelas quais era apaixonado, acabou adquirindo conhecimentos e habilidades que o tornaram melhor no seu trabalho principal. As experiências que adquiriu também prepararam Amit para futuros papéis de liderança que ele nem imaginava que iria alcançar, tanto no âmbito dos projetos voluntários quanto no contexto profissional. Além disso, a experiência adquirida no voluntariado acabou se tornando um fator de destaque para a sua carreira.

De acordo com um estudo publicado em março de 2017 pela Santo Caos em parceria com o Bank of America Merrill Lynch, dentre as competências que podem ser desenvolvidas por meio do trabalho voluntário estão a capacidade de se trabalhar em equipe de maneira mais produtiva e engajada, o despertar da empatia pelo outro, o aumento da motivação, a melhoria nas habilidades de comunicação, expansão da rede de contatos, sensação de reconhecimento e a obtenção de novas perspectivas ao conhecer novas realidades. Ainda de acordo com o estudo, os gestores costumam ver os profissionais que desenvolvem atividades voluntárias com bons olhos, e afirmam que esse tipo de atividade, além de gerar admiração, permite aos profissionais maior capacitação e motivação, melhorando muito a capacidade de trabalho em equipe e de inovação nas atividades relacionadas ao seu trabalho principal.

Para otimizar o potencial desse tipo de experiência, no entanto, é preciso assumir as atividades “extra” fora do ambiente de trabalho com comprometimento e sem deixar de lado a possibilidade de desenvolver algum tipo de estratégia para isso.

Os principais pontos estratégicos aos quais é preciso prestar atenção ao se dedicar a um trabalho voluntário, especialmente enquanto se dedica também a outro trabalho principal, são as experiências desejadas, os papéis ou cargos a serem ocupados, o tempo necessário de dedicação à atividade e o alinhamento de seus gostos pessoais e objetivos profissionais.

Experiência desejada 

Defina quais os tipos de experiências você deseja adquirir por meio do trabalho voluntário. Você quer apenas conhecer outra realidade? Quer aprender ou desenvolver habilidades que não tem oportunidade de trabalhar no contexto do seu trabalho principal? Quer assumir um papel de liderança no projeto que vai trabalhar? Ao definir com clareza o tipo de experiência que deseja vivenciar ficará mais fácil traçar um caminho e entender as possibilidades que esse trabalho voluntário pode te trazer.

Papéis e cargos 

Após a definição do tipo de experiência que você quer ter com seu trabalho voluntário, deve-se pensar em quais papéis e cargos podem maximizar a experiência que você quer ter. Se você quer aprender a negociar, trabalhar com vendas ou com prospecção de doações e de parcerias pode ser interessante pra você. Se quer melhorar sua comunicação, trabalhar com atendimento ao público pode ser uma boa opção. Se quer desenvolver habilidades de liderança e gestão, criar ou gerir um projeto pode te ajudar nisso. Se você quer apenas conhecer e entender as vivências de um projeto voluntário, o ideal é não assumir um papel de liderança e focar em atividades mais operacionais, podendo se dedicar como voluntário apenas a ações pontuais, caso seja possível.

Tempo

É preciso analisar o tempo que será necessário dedicar para essa atividade “extra” e a forma como isso te afetará no seu trabalho principal e na sua vida pessoal. A dedicação à uma atividade voluntária pode exigir que você tenha que se ausentar do seu trabalho principal em alguns momentos, por isso é importante conversar com seu gestor sobre o trabalho que está desenvolvendo, expor a sua importância e alinhar com ele a possibilidade de se ausentar eventualmente para desenvolver alguma ação relacionada a ele. Da mesma maneira é importante conversar com a sua família e amigos sobre o trabalho que está desenvolvendo, expondo o quanto ele é importante pra você e avisá-los sobre o tempo que irá passar a dedicar em prol dessa causa. Não esqueça de reservar momentos de descanso tanto do seu trabalho principal quanto do seu trabalho voluntário para que não se sinta sobrecarregado.

Gostos pessoais e objetivos profissionais 

Para que você consiga se dedicar ao seu trabalho voluntário com comprometimento e motivação é essencial que a causa a qual está relacionado se alinhe de alguma forma a seus gostos pessoais e objetivos profissionais. Pode ser que você ache muito legal o trabalho de uma ONG que resgata animais em situação de risco, mas não se identifique com a causa, não goste tanto assim de animais e que isso não tenha conexão nenhuma com seus objetivos profissionais. Trabalhar com essa causa pode até ser uma experiência nova e interessante, que com certeza terá algum valor para você e para a sociedade, mas é possível que você não se sinta tão motivado para dedicar-se a ela e seu nível de comprometimento pode não ser tão alto. Trabalhar com causas pelas quais você é apaixonado e que se alinham com seus objetivos pessoais é o segredo para se manter engajado em atividades voluntárias.

É possível ver o voluntariado como um ato de amor e de doação, envolvendo-se em uma causa pela qual você tem paixão, e ainda assim agir de maneira estratégica extraindo o melhor disso para que beneficie a sua comunidade e a si próprio,tanto no aspecto pessoal quanto no seu desenvolvimento profissional.

Texto escrito em parceria com Youth Action Hubs