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O início da FreeHelper

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FreeHelper

27 de dezembro de 2019

 

Desde minha infância, sempre estive envolvido em atividades sociais, muitas vezes por convites ou por imposições da minha família, porém, ao final do trabalho eu comumente tinha a estranha sensação de que não tinha feito o suficiente. Sentia que o impacto era momentâneo, e a ação feita não mudaria a vida das pessoas. Além disso, sentia que eu acabava ganhando mais do que a pessoa que eu, supostamente, deveria estar ajudando – a troca de experiência certamente era algo que me agregava muito. Eu saía dessas ações e pensava que podia fazer mais, mas por não saber exatamente como, eu acabava por deixar o pensamento de lado e seguia com minha rotina.

Em 2016 eu estava fazendo um curso na ISAE e, ao folhear o caderno da faculdade, encontrei um programa de Voluntariado Pro-Bono – um tipo de voluntário diferente do assistencialismo, pois você ajuda organizações sociais doando seu conhecimento. Eu, particularmente, nunca tinha ouvido falar deste tipo de voluntariado, mas prontamente me interessei. No mesmo dia fiz meu cadastro e em poucas semanas estava trabalhando com gestão de projetos em uma ONG na minha cidade. O trabalho inteirou durou 4 meses e ao longo desse período eu passei por uma série de dificuldades, conquistas e, principalmente, aprendizados. Após o encerramento do programa eu estava motivado a fazer a diferença, mas, novamente, por não ter todas as respostas, segui com a rotina.

Depois disso, no início de 2017, eu estava trabalhando e ouvindo o discurso do Bill Gates para os graduandos de Harvard. No discurso, ele disse que de nada adiantava se formar na melhor universidade do mundo se o conhecimento não fosse passado adiante como benefício à sociedade. Além disso, disse que a grande maioria da população mundial gostaria de ajudar causando impacto positivo, porém como muitos não sabem como fazer ou por faltar informação, elas simplesmente desistem.

Esse discurso nunca saiu da minha cabeça, me identifiquei com tudo que o Bill Gates disse e, pela primeira vez, eu percebi que a vontade de fazer a diferença e causar o impacto que eu sempre senti não era algo meu, mas sim um sentimento compartilhado por milhões de pessoas ao redor do mundo.

Eu passei alguns dias pensando e, em uma sexta-feira, dentro de uma sala de cinema – nem sequer lembro qual era o filme, pois estava ocupado demais pensando em como sair da zona de conforto para tentar causar impacto – tomei a decisão de fundar uma ONG e, no mesmo momento, entrei em contato com alguns amigos – os quais eu acreditava terem interesse social e conhecimentos complementares que poderiam contribuir para o negócio. Me lembro de ligar super empolgado para um deles que, mais para frente viria a ser um dos fundadores, e dizer “como você está de tempo? Eu pensei em uma empreitada e quero que você me ajude”. O aceite foi muito bom e, em maio de 2017, nós tivemos a primeira reunião.

Éramos 8 jovens reunidos em uma sala de coworking sem ter absolutamente nenhuma ideia do que viria pela frente. Não existia um plano de negócio, e nem sequer um nome. Só tínhamos um objetivo: causar impacto social. Mas como fazer isso? As ideias foram das mais variadas, e os projetos foram desde relacionados à educação até erradicação da pobreza. Por fim, pensamos: e se juntarmos tudo isso no mesmo lugar? E se, ao invés de sermos apenas mais uma ONG e ficarmos limitados ao nosso próprio impacto, ajudarmos outras ONGs a conseguirem aumentar seus alcances e assim criar uma rede multiplicável? Por óbvio, o caminho do pensamento não foi tão claro e direto quanto o que esse texto sugere, mas as inúmeras horas de discussões foram aqui resumidas.

 

 

Pronto, tínhamos uma ideia, mas e agora? Como colocar em prática? Essa pergunta levantou mais centenas de outras dúvidas que levaram meses para serem respondidas. Em nosso segundo encontro (19/05/2017), separamos o time em grupos: financeiro, comunicação, jurídico e relacionamentos. E a função de cada time era a mesma: fazer acontecer dentro da sua área. Foram muitas discussões, votações e dúvidas, até que, em setembro, demos o primeiro passo rumo ao início das operações: lançar uma landing page e verificar se haveria interesse pelo projeto. No site, apresentamos o que queríamos fazer e, no final, pedíamos para quem tivesse se interessado realizar o cadastro.  Por fim, o número de cadastrados determinaria o lançamento ou não do projeto. 

Para a landing page estipulamos a meta de 200 cadastros. No entanto, depois de pouco mais de um mês, superamos a meta alcançando 250 cadastros em 4 estados diferentes do Brasil – sem investir em publicidade, o que foi uma grande surpresa. Além dos cadastros, muitas pessoas mandaram mensagens de suporte. Alguns disseram que sempre procuraram por algo como a plataforma, outros disseram que nós iríamos mudar o mundo e queriam fazer parte. Depois de tantas mensagens e um número relevante de cadastros, o próximo passo era claro: colocar em prática a  operação e causar impacto positivo.

E aí surgiu a primeira grande questão: eu queria colocar a plataforma perfeita no mercado, não lançar uma versão beta – na época, conceitos como “lean startup” não eram tão difundidos como hoje. Felizmente, eu tinha um time de fundadores que me convenceram do contrário e começamos a trabalhar em uma versão simplificada do que seria nossa plataforma. Basicamente, iríamos tornar o que deveria ser automatizado em algo manual e assim testar o mercado e nosso modelo de operação.

A ideia era de que o voluntário fizesse o cadastro já informando sua área de atuação, com isso a plataforma, automaticamente, o conectaria com vagas de voluntariado (remoto, especializado e a curto prazo) que se enquadraram com sua expertise. Depois disso, toda a interação, feedbacks e até a emissão de certificado aconteceriam dentro da própria plataforma, com sistema de notas de avaliação e chat para dúvidas. 

Na prática, o que fizemos foi colocar no ar um site com opção de cadastro para os voluntários e, também, entramos em contato com dezenas de ONGs para entender suas necessidades e dificuldades. Depois disso “criamos” a demanda da organização e enviamos manualmente ao banco de dados de voluntários via e-mail ou demais redes sociais. O voluntário interessado respondia e era colocado em contato com a ONG, neste momento nós íamos detalhando e alinhando expectativas sobre o trabalho. Depois disso, íamos acompanhando as interações da forma que dava: E-mail, WhatsApp, Facebook, ligações, SMS, etc. Apesar de ser um modelo de operação bastante simples, deu muito certo e, com isso, conseguimos concluir ações com sucesso. Porém, ainda estávamos longe de onde queríamos chegar.

Com esse modelo de operação simplificado percebemos que havia muita demanda (ONGs não profissionalizadas e com escassez de mão de obra, o que não permite que consigam alcançar o impacto desejado) e oferta (pessoas interessadas em ajudar organizações com seu conhecimento) para crescermos, e aí começamos a trabalhar em uma plataforma mais inteligente que permitiria aumentar o número de ações e, consequentemente, o impacto. Porém, nesse momento nos deparamos, pela primeira vez, com a questão financeira. Não tínhamos programador no time e nem investimento para a contratação de algum profissional.

Desde o início, a FreeHelper sempre teve como mandamento não aceitar doações. A ideia era de monetizar via planos de patrocínio às empresas interessadas em impacto social, no entanto, sempre focando em tratar como um investimento, que traria benefícios sociais e de marca/marketing para a empresa, e não como doação. Com isso em mente, ficaria difícil monetizar porque ainda éramos pouco estruturados para receber investimentos – sequer tínhamos CNPJ. Com isso, a opção naquele momento parecia óbvia: escambo. Oferecemos qualquer tipo de parceria e benefício para conseguir trazer gente para o time, principalmente quem pudesse ajudar com tecnologia. E, por incrível que pareça, deu certo: conseguimos trazer pessoas super talentosas e engajadas para nos ajudar com atividades que os fundadores não tinham capacidade para executar – desde contabilidade até programação e web designer.

Com a validação da landing page e o início da programação da plataforma, entramos em 2018 com a meta de crescer e causar impacto. Quando de fato começamos a trabalhar na automação da nossa operação, percebemos que não seria fácil como imaginávamos. Eram muitos detalhes que não havíamos mensurado e que precisávamos considerar se quiséssemos alcançar o maior número de pessoas possíveis. As ações demoravam mais, as interações com voluntários se tornaram mais difíceis e a curadoria com as ONGs mais complexa do que imaginávamos. Por esses motivos, realizamos poucas ações ao longo do ano (aproximadamente 10 finalizadas) e passamos por períodos de praticamente nenhuma operação – nesta fase eu, pessoalmente, fiquei bastante frustrado e passei a questionar a longevidade e impacto da FreeHelper. Depois de um considerável crescimento rápido, estávamos nos deparando com questões básicas de modelo de negócio os quais eu acreditava já termos superado. Neste momento, ao final de 2018, em uma reunião com o time, a pauta era clara: ou focamos e crescemos ou fechamos. 

Visto que todos os fundadores tinham outras obrigações, quase todos trabalhando e fazendo faculdade, o tempo para se dedicar à FreeHelper acabava sendo muito limitado, o que fazia com que tanto as decisões quanto às execuções demorassem mais do que o planejado. Então, nessa reunião, depois de discursos apaixonados de membros do time, decidimos nos organizar, estruturar e focar no crescimento. Criamos um relatório semanal em que todos os membros deveriam reportar as atividades feitas e realizações da semana, de forma que todos teriam uma visão completa do dia-dia de cada um – essa iniciativa deu tão certo que se tornou um ato religioso de todas as segundas-feiras.

Tomada a decisão de crescer, entramos em 2019 focados em fazer acontecer. Colocamos em prática nossa estratégia de monetização, contratamos a primeira funcionária full-time (que é, também, uma das fundadoras) e passamos a investir em tecnologia e marketing. Além disso, fechamos parceria com novas empresas que contribuíram para nosso crescimento até aqui e estamos à procura de novos. Sentiu a indireta? Então, nos apresenta aquela empresa de seu amigo ou familiar que tem interesse em impacto social sustentável!

O ano de 2019 tem sido de muitas conquistas: alcançamos o número de 2.000 voluntários, concluímos mais de 40 ações,  participamos de conferência internacional, aparecemos na mídia, realizamos eventos e, o mais importante, ajudamos ONGs de todo o Brasil a aumentar seu impacto, dando oportunidade às pessoas que querem fazer a diferença na sociedade usando seu conhecimento. Quais as próximas metas? Nos acompanha por aqui para ficar sabendo!

Conto com você para causar ainda mais impacto positivo no Brasil!

Faça a Diferença.

Gabriel Pinheiro
CEO na FreeHelper e Associate de Private Equity na Noon Capital
Formado em economia pela UFPR. Em 2017 fundou a startup social FreeHelper onde atua como CEO. Há dois anos trabalha como Associate de Private Equity, com passagem pelo fundo Alothon Group e atualmente trabalhando na Noon Capital. Anteriormente trabalhou com fusões e aquisições na Cypress e como consultor de finanças na KPMG Brasil. Também é fellow da rede global changemakers.