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Coronavírus não é o único atual inimigo da saúde brasileira

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17 de setembro de 2020

Com a disseminação do novo coronavírus em escala global, os veículos midiáticos têm focado majoritariamente em noticiar ao mundo os bastidores da pandemia. Seja pela diminuição (ou não) da curva de infectados, o afrouxamento das medidas de quarentena ou a testagem de uma possível vacina, o que tornou o coronavírus o “antagonista” das manchetes jornalísticas e das redes sociais.

Na capital paranaense, por exemplo, a prefeitura municipal iniciou uma campanha pubicitária como alerta à população sobre os sintomas de infecção pelo coronavírus usando os outdoors das principais vias urbanas da cidade. Essa estratégia de comunicação demonstra o impacto da pandemia em todos os setores da vida dos brasileiros, especialmente na saúde, educação e na economia. Atualmente, o Brasil é o segundo país com o maior número de mortes atribuídas ao covid-19, com média diária móvel de 758 óbitos, segundo os dados divulgados pelo Consórcio dos Veículos de Imprensa.

O Sistema Público de Saúde brasileiro, o SUS, criado em 1988, e que obedece ao princípio da universalidade do “direito de todos” à saúde e “dever do Estado”, atualmente passa por uma crise no oferecimento de seus serviços considerados não urgentes à população. Grande parte dos procedimentos eletivos que objetivavam diagnósticos precoces de doenças, tais como o câncer e o HIV, foram suspensos e é grande número de leitos de internação em terapia intensiva destinados apenas ao tratamento de pacientes contaminados pelo coronavírus. Mesmo que os esforços governamentais estejam concentrados em conter a pandemia e em suas consequências econômicas, o país ainda passa por outras epidemias preocupantes, as quais aparentam terem sido “esquecidas” pela mídia.

Em tempos de isolamento social, a conscientização da população quanto ao esforço individual na contenção de tais epidemias contribui para o bem-estar de toda a coletividade.

Tratamento elimina HIV do corpo de paciente brasileiro | VEJA

HIV

Desde que foi reconhecida, em meados de 1981, a AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – já matou mais de 30 milhões de pessoas no mundo inteiro. O vírus HIV, agente etiológico causador da doença, ataca as células do sistema imunológico humano deixando o organismo mais propenso contrair doenças e infecções. Estima-se que apenas em 2016 cerca de 1,6 milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus, sendo, aproximadamente, 38 mil brasileiros.

Devido à sobrecarga do sistema público de saúde direcionada ao atendimento das demandas de novos recursos relacionados à pandemia do novo coronavírus, as campanhas de prevenção à Aids e a disponibilização de testes rápidos à população foram reduzidas drasticamente. O resultado é o aumento das afecções psicossomáticas, ou seja, aquelas que estão presentes no organismo, mas sem o aparecimento dos sintomas que favorecem a busca por assistência médica. A falta de um diagnóstico precoce do vírus HIV acarreta no aumento da transmissão involuntária e diminui gradativamente as expectativas de sobrevida do contaminado.

Hoje em dia, se comparado à realidade assistencial e social de vinte anos atrás, pacientes soropositivos podem ter uma elevada qualidade de vida quando tratados com antirretrovirais eficazes e mantêm acompanhamento médico periódico. E, assim como com o coronavírus que possui a prevenção como o melhor tratamento, é incentivado o uso de preservativo durante as relações sexuais, a realização do pré-natal durante a gestação e a utilização individual de agulhas e seringas descartáveis.

É válido ressaltar que nas Unidades Básicas de Saúde são fornecidos assistência à gestante de forma gratuita e preservativos (feminino e masculino), este últmo podendo ser retirado no momento e quantidade que o usuário julgar necessário.

Dengue

Segundo um boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do Paraná, apenas no mês de maio deste ano foram notificados 157.418 casos de dengue no estado. Seu caráter epidêmico no Brasil deve-se ao fato do clima tropical do país favorecer à proliferação do mosquito transmissor do vírus, o Aedes aegypti, que se reproduz em locais com acúmulo de água parada.

Do ponto de vista socioambiental, a falta de saneamento básico adequado – especialmente o abastecimento de água – e a coleta de lixo são fatores potenciais para o desenvolvimento do Aedes aegypti. Nesse sentido, cidades que não possuem um planejamento urbano adequeado ou que enfrentam um crescimento desenfreado estão entre as que mais se destacam nos índices de aumento dos casos de dengue.

Embora a quarentena pressuponha o confinamento voluntário residencial, mesmo em casa é preciso que a população elimine os possíveis criadouros de mosquitos, como locais que contenham água parada. Enquanto a pandemia e as medidas de isolamento social dificultarem os acessos de agentes municipais de combate às zoonoses a esses locais, a conscientização é fundamental para conter as curvas dessa epidemia tão pouco falada atualmente.

Câncer de mama

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as estratégias para a detecção precoce de qualquer tipo de câncer é o rastreamento e o diagnóstico precoce. No atual contexto pandêmico, em que os exames e procedimentos eletivos foram suspensos, afim de disponibilizarem lugares às internações prioritárias ligadas ao covid-19, órgãos de combate ao câncer, como o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, passaram a recomendar a remarcação das mamografias de rastreamento para quando as restrições de isolamento diminuírem. As consequências poderão ser percebidas apenas no período pós-pandêmico, já que teme-se uma epidemia de câncer em estágio avançado, devido ao diagnóstico tardio.

O câncer de mama continua sendo o segundo tipo que mais acomete as mulheres brasileiras, tendo sido registrados 59.700 novos casos só em 2019. Atualmente, ressalta-se a importância da população feminina estar “atenta” a qualquer tipo de alteração suspeita através do autoexam, que consiste em apalpar as mamas em busca de possíveis nódulos, observação de vermelhidão ou alterações no bico do seio.

Nesse momento de incertezas quanto ao futuro, como forma de conter epidemias como o HIV, dengue e câncer de mama, é necessário, antes de tudo, cuidar de si mesmo. A manutenção da saúde em tempos de pandemia derivam do esforço coletivo em aderir medidas de prevenção, já que dependem unicamente do esforço da população.

Mais do usar máscara de proteção e álcool em gel regularmente, é preciso promover a saúde, o que significa promover o bem-estar físico, mental e social, e não apenas evitar doenças ou enfermidades.

Ludi Moreira
Técnica em Enfermagem
Baiana, afrodescente, apaixonada por histórias e amante do cinema clássico. Concilia os estudos da graduação em Jornalismo na UFPR com plantões noturnos como técnica em enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).