O trabalho voluntário com a agenda de clima pode ser separado de muitas formas, mas uma divisão simples pode ser feita para entender a diversidade de possibilidades que existem: a ação orientada a incidir na agenda de clima e a ação de resposta aos impactos dos eventos climáticos extremos.
A primeira tem ganhado mais espaço nos últimos anos com a inclusão cada vez maior da narrativa climática dentro de organizações que já trabalham com o propósito de garantir a justiça social e ambiental. Isso acontece tanto em organizações ambientalistas e em projetos que pautam os direitos humanos já historicamente consolidados que recentemente incluíram a visão interseccional da agenda climática em suas pautas, mas também na imensa quantidade de novos projetos e movimentos espontâneos de juventude que já começam sua incidência com justiça climática como sua principal demanda.
Voluntários nesses projetos e instituições estão pautando o combate à crise climática em atividades de educação, ativismo, mobilização e em advocacy direto com os espaços institucionais de tomada de decisão, pressionando por políticas públicas que garantam a transição necessária para um modelo econômico mais justo e menos predatório ambientalmente e socialmente.
O segundo grupo está relacionado com a necessidade de resposta aos eventos climáticos extremos que têm acontecido cada vez mais em maior frequência, em maior quantidade e em ambientes que ainda não são adequadamente adaptados para lidar com essas ocorrências. São enchentes, alagamentos, deslizamentos de encostas, grandes estiagens, grandes tempestades, perdas nas safras agrícolas e outros impactos que afetam pessoas tanto nas grandes cidades quanto no campo e exigem resposta rápida da sociedade para mitigar os seus danos. Muitas das pessoas que fazem trabalho voluntário nessas circunstâncias não têm necessariamente um engajamento com a questão climática ou mesmo se identificam com ela de alguma forma, mas independente disso possuem papel determinante na diminuição do dano desses impactos.
Os países, empresas e pessoas que historicamente se beneficiam da manutenção do atual modelo de desenvolvimento que gera a crise climática tem o poder econômico e político para garantir que seus interesses sejam mantidos. Contra esse mecanismo estão organizações, movimentos e comunidades que, em geral, possuem muito menos recursos e menos poder para influenciar em processos políticos.
Por isso é importante ressaltar que independente do tipo de engajamento voluntário na ação climática, todas as formas são essenciais e valiosas para lidar com esse desafio. Grandes vitórias em relação ao avanço de medidas tanto de diminuição das emissões de gases de efeito estufa quanto de ações de adaptação a eventos extremos só foram possíveis graças às centenas de mobilizações de pessoas voluntárias, dentro e fora de organizações, em ONGs, movimentos e até mesmo individualmente.
Apesar de ressaltar esse protagonismo e importância do trabalho voluntário pela ação climática, é indispensável deixar claro que ele é uma resposta à inação do poder público em responsabilizar grandes empresas poluentes, investir em mitigar as emissões de gases de efeito estufa e adaptar nossos ambientes para que os impactos negativos sejam sentidos em menor intensidade. Em um mundo ideal, nenhuma pessoa deveria precisar se engajar pela ação climática.
Essa crise em que estamos vivendo se apresenta como um dos principais desafios que a humanidade já precisou lidar e as ações necessárias para evitar os piores cenários demandam um nível de ambição compatível com essa urgência. Enquanto ainda não temos a vontade política para fazer uma transição econômica justa e ambiciosa, precisaremos contar com o apoio essencial de pessoas voluntárias todos os dias, em todos os países e territórios.