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Como negócios sociais vinculam o lucro ao impacto social

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11 de março de 2021

De vez em quando você olha para o mundo e pensa “poderia ser diferente”? Já passou pela sua cabeça que se você pudesse conduzir esse cruzeiro ele estaria indo a um lugar melhor? E quando você pensa no mercado (nas empresas, no capitalismo), você pensa que poucos têm muito e muitos têm pouco? Que talvez os bens possam ser mais bem distribuídos?

Como uma eterna aprendiz, mas, ainda assim, estudiosa de economia, toda vez que falam que uma empresa não deveria querer lucrar tanto quanto quer, eu torço o nariz porque sei que ela não existiria se não fosse por isso; para mim, faz sentido esse objetivo, porque eu entendo que ela foi feita exatamente para dar lucro e que quanto mais lucro ela tiver melhor será para seus acionistas e também para a sociedade.

Mas, ao mesmo tempo, penso que todo ser humano deveria, como diz o mandamento bíblico, “amar o próximo como a ti mesmo” e, por causa disso, entendo que seria melhor se, assim que os acionistas obtivessem lucro, uma parte fosse dada a outros, por uma questão de caridade e amor ao próximo – não por obrigação.

No meio desse impasse, será que não daria para existir algo que unisse as duas pontas? Algo que se sustente como uma empresa lucrativa, mas que, ao mesmo tempo, tenha como objetivo fazer o bem ao próximo? A grande notícia é que sim, daria, e isso já existe! A isso damos o nome de “negócio social”.

Um negócio social nada mais é do que uma empresa como outra qualquer, cujo objetivo não é a maximização do lucro por si só, mas a utilização de recursos para resolver problemas sociais ou ambientais, e todo lucro, caso gerado, é reinvestido na própria empresa ou investido em um novo negócio social – o lucro não é distribuído entre os acionistas.

Diferente das ONGs, organizações sem fins lucrativos (e, portanto, passíveis de ajuda externa e trabalho voluntário), os negócios sociais são auto sustentáveis e conseguem ajudar ainda mais as comunidades carentes.

O primeiro negócio social do mundo

Muhammad Yunus foi o criador do termo. Nascido em Bangladesh, era apenas um economista até o momento em que percebeu, em um pequeno vilarejo, que muito do que ele ensinava em sala de aula não poderia ser observado na realidade daquele lugar. Ele observava agiotas se aproveitando e controlando os mais pobres, e, incomodado com aquela situação, quis ser ele mesmo a pessoa que empresta o dinheiro, mas, diferente daqueles, sem explorar os mais necessitados. Ele não emprestava muito, mas o pouco que emprestava já era de grande ajuda.

Com o tempo, a notícia foi se espalhando: a necessidade de mais dinheiro para crédito foi aumentando e em 1983 ele finalmente criou um banco chamado Grameen Bank, conhecido por fornecer microcrédito a pessoas de baixa renda – pessoas que não conseguiriam crédito nos bancos comuns.

Em 2015 o banco tinha 8,5 milhões de tomadores de crédito, sendo 97% deles mulheres que, por causa disso, conseguiam começar o próprio negócio (vendendo sementes, hortaliças, leite…) e alcançar certa independência em relação a suas famílias e maridos.

Não à toa, Muhammad ganhou um Nobel da Paz em 2006.

A criação de um negócio social

Assim como todo empreendimento, para se criar um negócio social é preciso coragem, conhecimento e investimento.

Mas, diferentemente de uma empresa qualquer, em que o sucesso é medido pelo retorno financeiro aos acionistas, o sucesso do negócio social é medido pelo impacto positivo causado na vida de pessoas, aliado à sustentabilidade financeira da empresa, não distribuição de dividendos e multiplicação do impacto conforme o crescimento do negócio – após aceleração ou investimento, por exemplo.

Yunus possui 7 princípios para um negócio social:

1.Objetivo é resolver um problema da sociedade (como pobreza e saúde), não maximizar lucro;

2.Sustentabilidade financeira e econômica;

3.Investidores recebem apenas o que investiram, sem direito à distribuição de dividendos;

4.Lucro deve ser 100% reinvestido na empresa para expandir as operações e aumentar o seu impacto social, ao invés de distribuído como dividendo;

5.Deve ser ambientalmente consciente;

6.Funcionários obtêm salários compatíveis com o mercado e boas condições de trabalho;

7.Faça com prazer!

Seguir esses princípios, estudar bem o mercado, pensar e agir como uma startup são o caminho. É preciso criar um MVP (Minimum Viable Product – o mínimo produto viável), começar a trabalhar e ir atrás de investimento para fazer a ideia crescer. É necessário, também, que o empreendedor crie um modelo de negócio sustentável robusto, com produto ou serviço inovador e com a ambição de erradicar grandes desafios do planeta. O processo de diligência demora em torno de 3 a 4 meses.

Os critérios de seleção de negócios sociais para investimento da Yunus são:

• Negócios em operação, com faturamento recorrente e fluxo de caixa próximo do break-even ou positivo;

• Urgência do problema social e potencial de impacto do negócio;

• Solidez do plano de negócio, incluindo a sua sustentabilidade financeira;

• Empreendedor ou time à frente do negócio;

• Replicabilidade, escalabilidade e potencial de ser um game changer.

Além disso, a Yunus Negócios Sociais estruturou e captou o primeiro fundo de investimento em negócios sociais no modelo Yunus do Brasil, por onde a empresta “capital paciente”, que possui taxas de juros mais atrativas (abaixo do valor de mercado), pode ter ticket entre R$200 mil e R$3 milhões e tem prazo de 4 a 6 anos, incluindo período de carência de principal.

Trata-se do Yunus Negócios Sociais Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC Yunus), e quem investiu nesse fundo entende que o impacto social deve ser considerado como parte do retorno pretendido sobre seus investimentos.

O processo de seleção para uma empresa receber o investimento funciona da seguinte maneira: num primeiro momento, faz-se o contato com o time da Yunus para apresentação do negócio social. Em um segundo momento, o comitê interno da Yunus faz uma avaliação do negócio; e, em caso de resposta positiva, agenda-se uma reunião presencial ou remota e, caso haja interesse de ambas as partes, inicia-se o processo de diligência.

Conforme as necessidades e contexto de cada negócio, a Yunus também viabiliza atendimento nas seguintes áreas (entre outras):

•Diagnóstico de mercado;
•Modelagem financeira;
•Prototipagem e teste de produtos;
•Mentoria e networking;
•Preparação para investimento.

Negócios sociais investidos pela Yunus no Brasil

Desmistificando uma questão

Quando pensamos em trabalho social, a ideia que muitos têm é de que a pessoa trabalha para os outros nas horas vagas, sem receber nada em troca. Mas se tratando de um negócio social, a situação é oposta. Em um negócio social existem as pessoas que trabalham e recebem de acordo com o mercado – um CEO ganha tão bem quanto qualquer CEO, por exemplo –, com perspectivas de crescimento na empresa e mais.

A única diferença é que os fundadores da empresa e seus investidores não terão participação nos lucros, uma vez que eles não vão para o bolso de ninguém, mas reinvestidos na própria empresa ou em um novo negócio social.

Ou seja, o trabalho, o valor e o aprendizado são os mesmos, mas o impacto é ainda maior! E aí, o que você achou desse modelo de negócio? Conseguiria abrir mão do lucro da sua própria empresa para devolvê-lo à sociedade?

Tire o escorpião do bolso e mãos à obra! O mundo precisa de você.

Marina Franco
Empreendedora
Engenheira de produção, mas só no papel. De espírito empreendedor, ama aprender sobre diversos assuntos e compartilhar conhecimento através da escrita. Acredita que com amor e educação o mundo pode se tornar um lugar melhor