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As organizações filantrópicas são capazes, realmente, de mudar o mundo?

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31 de março de 2020

 

Antes de falar sobre o verdadeiro impacto das organizações sociais sem fins lucrativos, é preciso falar sobre o que contribui para que elas sejam capazes de gerá-lo. Como sabemos, a mobilização de recursos é uma das várias formas de manter uma ONG em funcionamento e ela busca conciliar o interesse do doador com os interesses da própria organização e, por isso, há tanto conflito.

Nossa geração é a do imediatismo: se não virmos o resultado agora, o que quer que tenha sido feito não funcionou. Então, se doarmos nosso dinheiro à uma Instituição que busca acabar com a fome mundial e ela continua a existir, logo pensaremos na imoralidade da administração da instituição: para onde foi o dinheiro?

Os problemas sociais são enormes, enquanto as ONGs são pequenas contra eles. Mas por que elas não crescem em escala de Apple, Amazon ou Coca-Cola? Por que nosso sistema continua a mantê-las pequenas mesmo colocando interesses terceiros em primeiro lugar e lutando por causas sociais tão importantes?

 É para isso que o ativista e captador de recursos Dan Pallotta chamou a atenção em uma edição especial do TED talks – série de conferências destinadas à disseminação de ideias – ao mencionar a grande discriminação existente entre as organizações filantrópicas e o resto da economia mundial.

                                                                         

Para explicitar melhor sua teoria, ele pontuou 5 áreas diferentes em que esta discriminação se manifesta tornando o Terceiro Setor tão desvantajoso. São elas:

  1. Remuneração: “quanto mais você produzir, mais poderá fazer”. Se um graduado com MBA em Standford consegue gerar, para si próprio, um salário médio de $400.000, enquanto o CEO de uma instituição de caridade média gera $232.000, por que o primeiro sacrificaria $168.000, mensais, em prol de uma causa maior? É muito mais barato doar $100.000 por ano, economizar $50.000 em impostos e, ainda sim, estar fazendo o bem. As mentes mais brilhantes das universidades de todo o mundo saem direto rumo ao setor privado da economia, simplesmente porque não querem fazer esse sacrifício econômico para o resto da vida.
  1. Publicidade e Propaganda: qual a melhor maneira de se promover um produto no setor com fins lucrativos? Investindo em propaganda. No entanto, ninguém quer ver suas doações para fins beneficentes sendo gastas em publicidade, mas, sim, em necessitados. Paradoxo. Não querem acreditar que o valor gasto em marketing, nas organizações filantrópicas, é capaz de trazer de volta somas muito maiores de dinheiro para servir aos necessitados.
  1. Tomada de risco na busca por novas ideias: um filme da Disney pode custar 200 milhões de dólares e fracassar sem incomodar ninguém. Porém, se uma ONG fizer uma captação de recursos comunitária de 1 milhão de dólares para os pobres e não produzir um lucro de 75% para a causa, o caráter de seus administradores será questionado – exemplifica Dan. Logo, as instituições são relutantes em tentar qualquer método inovador de angariação de recursos, ficando limitadas sempre às mesmas ideias.
  1. Tempo: aqui volta o imediatismo. Se o setor filantrópico não pode tirar 5 anos para a desenvoltura de um projeto de captação de recursos, como poderá crescer?
  1. Próprio lucro: sem lucrar e/ou oferecer lucro aos clientes, como atraí-los?

Pallotta trouxe um dado ainda mais chocante para exemplificar sua teoria: entre 1970 e 2009 apenas 144 organizações sem fins lucrativos realmente cresceram e alcançaram o marco dos 50 milhões de dólares ao ano, contra 46.136 de empresas privadas que alcançaram e ultrapassaram o mesmo marco. Ainda afirmou que muitas organizações filantrópicas são beneficiadas e bem quistas por economizarem mais, não pelo que fazem. E, se pararmos para pensar, é exatamente assim que funciona.

As despesas gerais não são inimigas da causa. O investimento que parte das organizações filantrópicas, principalmente quando voltado ao crescimento, não pode ser taxado de imoral, porque não o é. Precisamos dilapidar o pensamento ilógico de que quanto menos você, como ONG, gastar com a captação mais terá disponível para a causa. Porque a realidade é que a captação é o único fator com verdadeiro potencial de multiplicar a quantidade de dinheiro e impacto positivo.

Ao invés de igualar frugalidade (qualidade de ser poupador, econômico) com moralidade é preciso compensar as instituições por irem além e, para isso, é preciso mudar a forma de enxergar a caridade e a cultura de doação. É preciso, nas palavras de Dan Pallotta: desenvolver generosidade no pensamento a fim de que possamos ter como resultado um mundo que funcione para todos; sem deixar ninguém de fora – como idealizava Buckminster Fuller.

Mariana Savaris
Editora Chefe do Blog da FreeHelper
Mariana Savaris atualmente trabalha no setor de Contratos e Societário no escritório Luciano Vernalha & Moro Advogados. Também é escritora e revisora de livros e artigos, atuando como Editora Chefe do Blog da FreeHelper.