A vulnerabilidade social é um conceito que se refere diretamente à condição de indivíduos ou grupos em situação de fragilidade, os deixando expostos a riscos e à desagregação social e cultural. Infelizmente, é algo que se encontra muito presente nos dias de hoje, principalmente ao falarmos de crianças, muitas das vezes impactadas por um conceito que nem sabem que existe.
Foi exatamente por conta dessa situação cultural que há alguns anos, meados de 2018, num bairro de classe alta de São Paulo, que enxergamos a discrepância do conceito vulnerabilidade social, em que, em meio a tantos prédios comerciais e tecnológicos, encontramos a comunidade que hoje é chamada de “Favela do Coliseu”.
Lá nos deparamos com crianças de diversas idades, tamanhos e etnias, e, apesar de algumas diferenças, nelas havia uma mesma característica: a falta de acesso à educação. Já que a nos era concedido esse acesso, por que não criar formas de ajudar esses pequenos de forma voluntária? Foi então que iniciamos uma jornada de cocriação de materiais educacionais para essas crianças, numa divisão etária, para que conseguíssemos ajudar o máximo possível.
O objetivo não era apenas levar mais educação para os pequenos, mas fazer com que os dias deles fossem mais divertidos, interativos e excepcionais, independentemente de qualquer situação. As aulas eram realizadas dentro da comunidade, especificamente dentro de uma casa comunitária na qual as crianças e adolescentes ficavam enquanto os pais trabalhavam. O voluntariado era realizado toda sexta-feira e contava com um grupo de estagiários.
Diante dessa situação e, há anos, muitas crianças vêm tendo dificuldade de acesso à educação e cultura, bem como aos cuidados com a saúde, o que acaba as distanciando de uma boa qualidade de vida. Inclusive, uma pesquisa da Unesco divulgou uma outra pesquisa que apontou que, aproximadamente, 260 milhões de crianças não tiveram acesso à educação em 2018, tendo esse quadro se intensificado em 90% com a pandemia. Os principais obstáculos apontados foram a discriminação e a pobreza.
Já no Brasil, foi apontado pela UNICEF que em 2020 mais de 5 milhões de crianças ficaram sem acesso aos estudos durante a pandemia, além disso, que grande reflexo da nossa vulnerabilidade social se dá pela exclusão na zona Rural, Norte e Nordeste, conforme gráfico abaixo:
Infográfico mostra percentual de crianças e adolescentes de 6 a 10 anos sem estudos, por área urbana e rural — Foto: G1
Passa ser importante, então, o apoio à população em detrimento das demandas ligadas diretamente às crianças e adolescentes. Uma população que parece ser pequena, mas que precisa de muita atenção e cuidado.
Uma vez entendido a real situação em que se encontram nossas crianças – a de vulnerabilidade social -, vou ajudar você que quer fazer algo a respeito. Para isso criei uma lista com algumas dicas de como você pode ajudar ou até mesmo apoiar organizações que atuem na causa, seja nesse momento de pandemia, seja depois.
• Divulgar o trabalho da ONG
Algumas ONGs, talvez sua grande maioria, não têm um setor de comunicação muito estruturado, muito menos estratégias de divulgação para atrair mais voluntários ou captação de doações. Por isso, é extremamente importante, e pode fazer uma grande diferença, a divulgação e compartilhamento que impacte diversas pessoas e variados canais de comunicação.
Se já há alguma ONG que você acredita e acompanha o trabalho diariamente, peça para que te permitam compartilhar seus conteúdos em suas redes sociais, sejam eles de campanhas ou pedido de doações. Parece simples, mas o alcance do compartilhamento das publicações em canais como Instagram e Facebook pode ajudar a instituição a impactar mais pessoas e até mais apoiadores.
• Fazer doações financeiras
As organizações sociais podem ser instituições sem fins lucrativos, mas também têm custos para se manterem ativas e ajudarem outras pessoas. As despesas podem ser com funcionários, alimentos para as crianças ou adolescentes, de gastos com equipamentos e até mesmo com financiamento de projetos que visam captar recursos.
Nesse momento de pandemia em que estamos vivendo, as instituições ficaram ainda mais vulneráveis e sem acesso a recursos financeiros. Então, se você acredita no trabalho de alguma ONG específica e pode ajudar doando financeiramente, converse com o responsável a fim de entender como funciona o processo, quais os métodos de doação monetária e seu destino.
Lembre-se, o importante não é somente o valor e sim o ato de apoiar o próximo.
• Fazer doações de alimentos, roupas ou brinquedos
Muitas das instituições não costumam arrecadar somente dinheiro, mas aceitam também doações de roupas, alimentos, brinquedos, móveis, livros e qualquer outro item que possa vir a ser utilizado. Não raro, a organização pode-se utilizar dessas doações em eventos, feiras e bazares, cujo objetivo é a arrecadação de fundos que financiem projetos internos.
Então, caso você tenha aquele casaco antigo que já não usa mais, algum livro que já leu ou móvel que já não usa, procure a ONG mais próxima ou aquela que você mais acredita no trabalho e doe!
• Seja voluntário
Trabalho voluntário é uma das maneiras mais importantes de se apoiar uma ONG, mesmo aquela que está iniciando seus trabalhos e, por consequência, ainda não é tão conhecida ou ainda não possui tantos meios de comunicação como falamos nos tópicos anteriores.
Aliás, o voluntariado é uma excelente forma de se ter contato direto com o propósito daquela instituição e de a conhecer ainda mais, bem como de estar frente a frente com a possibilidade de desenvolvimento de uma experiência muito diferente para o seu currículo.
Exemplificando: vamos supor que você trabalha com redes sociais e percebeu que aquela ONG que você acompanha ainda não possui nenhuma estratégia de marketing digital. O que acha de apoiá-la nessa construção para impactar ainda mais voluntários e doadores? Ou, caso você entenda muito sobre um assunto, como por exemplo o conhecimento da língua inglesa, empreendedorismo e internet, você pode ensinar e compartilhar seus conhecimentos com as crianças e adolescentes – que não possuem um acesso à educação adequado – dessa organização.
Vivendo essa experiência do trabalho voluntário, além de ajudar uma causa que você realmente acredita, ainda terá o benefício de aprender muito mais.
• Algumas ONGs que atuam na causa de crianças e adolescentes em vulnerabilidade social e que você pode ajudar
Se você chegou até aqui, quero antes te parabenizar! Isso quer dizer que você quer e pode ajudar nossas crianças a construírem um futuro melhor. Por isso, separei para você 3 ONGs que auxiliam essas crianças e adolescentes e que já fizeram e fazem a diferença em milhares de jovens.
- Passos da Criança
Fundada em 2004 na região da Vila Torres em Curitiba, a Passos da Criança é uma organização que há 15 anos atua com crianças e adolescentes gerando transformação social através de desenvolvimento integral. Para isso, oferecem 16 oficinas socioeducativas direcionadas à arte, cultura, esporte, lazer e cidadania. Já atenderam mais de 700 crianças desde 2004, com mais de 14.926 refeições realizadas e, diariamente, atendem crianças de 5 a 14 anos.
Neste ano, a organização está enfrentando o grande desafio de ampliar a sua sede para melhor atender as crianças da comunidade. O projeto de ampliação conta com a construção de um estacionamento, refeitórios e diversas salas. E para que isso possa acontecer o mais rápido eles estão precisando de muitos voluntários e nas mais diversas áreas. Topa ajudar?
- Crespinhos no poder
Iniciada as atividades na cidade de Campinas em agosto de 2018, o Instituto de Ação Social e Cultural Crespinhos no Poder é uma organização sem fins lucrativos e trabalha com crianças, adolescentes e famílias negras que se encontram em vulnerabilidade social e econômica. O instituto possui o propósito de ajudar na construção de uma sociedade mais igualitária e humanizada, em que a equidade social seja para todos.
Ao promoverem ações de empoderamento, o instituto foca na representatividade, colocando o negro como protagonista da literatura, moda, música, dança e estética negra, com o objetivo de desconstruir a crença de que ser vítima de racismo, preconceito ou até a desigualdade social é de herança do povo negro. Além disso, oferecem ferramentas que possibilitam a criação e ocupação de novos espaços sociais.
- Programa Bom Aluno
Com o propósito de atuar como um instrumento de mudança social em diversos lugares, o Programa Bom Aluno já está há 25 anos na ativa. O programa incentiva o desenvolvimento dos alunos de baixa renda que demonstram talento, bom rendimento e comprometimento, fornecendo oportunidades de desenvolvimento acadêmico a partir do 7º ano do ensino fundamental até a conclusão do ensino superior.
Os estudantes recebem capacitação educacional e profissional para que possam concluir os estudos com preparo o suficiente para entrar no mercado de trabalho. Em paralelo, são aprimoradas habilidades socioemocionais em apoio às crianças nessa construção.
O programa já ajudou diversos jovens a conseguirem sua aprovação em vestibulares e a obterem conquistas acadêmicas e profissionais incríveis. Além disso, recebem apoio de aproximadamente 850 integrantes a nível nacional, o que contribui fortemente para o desenvolvimento de um futuro melhor para as crianças.
Vale lembrar, por fim, que cada instituição tem sua peculiaridade, sendo essencial entrar em contato e entender quais são as formas de ajudar.
Descubra quais são os seus valores e quais as causas, dentre tantas, te impactam. Tenho a certeza de que você poderá fazer a diferença na busca pela diminuição da vulnerabilidade social que vemos hoje e que tantas crianças e adolescentes estão sujeitos.